Viajem pelo passado (The rover)
Cinco
de março de 1995, 7 horas da manhã. Pamela não demorou muito para
perceber a ausencia do marido. Acordou os filhos e todos se indagavam o
paradeiro de Marlon. Marlon, as vezes vazia peregrinações noturnas e
tinha o costume de desaparecer por alguns dias, porem, a carta que
deixou no balcão da cozinha, deixou todos perplexos. Nesta cara, se lia:
"Minha cara Pamela, sei o que fiz foi egoista e impulsivo. Não sou um
jovem sem compromissos, tenho familia, trabalho e lar, todavia, essas
instancias que tão fatalmente me estagnaram numa vida de classe média me
seduziram a fazer a mesma perigrinação que fizemos há 20 anos atrás.
Entenda, não sou uma poça d'agua, sou um homem. Nem preciso te lembrar
que sentia falta do vento batendo sobre meu rosto e de estar numa cidade
nova a cada dia. Talvez eu retorne depois do final da jornada, se ela
não me transformar completamente ou eu decidir viver como rato de
estrada até o final dos meus dias. Cuide bem das crianças, e se
perguntarem por mim, diga que eu desapareci, ou simplesmente, abandonei
minhas obrigações burocráticas e socias. Diga aos meus alunos que eu não
sou mais o seu professor e talvez não volte a lecionar. Mas não ache
que isso foi facil para mim...Se fosse, já teria os deixado a muito
tempo, mas agora, estava convicto de minha decisão".
Pamela
ao ler isso ficou perplexa. Ficou impressionada pela coragem de Marlon
de abandonar tudo, e ao mesmo tempo, triste e furiosa por esse mesmo
motivo. Dois dias depois da partida de Marlon, Pamela ainda tinha
esperanças que ele retorna-se e tudo aquilo não passasse de um blefe.
Uma semana se passou e ela não conseguia mais trabalhar direito, pois
quanto mais os dias e as horas se passavam, mais evidente ficava para
ela que Marlon não tinha blefado, como nas outras vezes, que depois de
desaparecer por dois dias, ele retornava para casa.
Enquanto
isso, Marlon estava vivendo num restaurante de beira de estrada, já no
estado do Mississipi. Depois de ter conseguido ganhar uma grana, tocando
por duas noites, ele parte para a estrada novamente. Duas semanas
haviam se passado, Marlon já estava no interior do Mississipi, enquanto
que Pamela se rendia as lágrimas.
Desconsiderando as opniões dos
filhos e dos amigos, que queriam que ela ficasse e tenta-se superar o
abandono do marido, ela decidi ir atrás dele, até como uma oportunidade
de voltar a viver na estrada. Pamela estava perplexa por precisar de um
pretexto como este para voltar a ser uma viajante errante, mas lembrou
que Marlon dizera a ela há dois anos atrás: "Um dia ou outro eu vou
partir, sem te avisar. Quero que me procure em seguida"...E foi isso que
ela fez.
No
dia que antecedeu sua partida, ela recriou, num mapa, o percurso que
eles tinham feito no final do anos 60. Vendeu seu carro e comprou uma
Harley Davison. Antes de partir, disse a Martha: "Cuide do Palmer. Eu
não voltarei muito cedo...Não tenho certeza se eu e seu pai
retornaremos. Deixei bastante dinheiro para você em minha conta no
banco, se você precisar".
Então,
no dia 25 de março, de 1995, ás 8 horas da noite, ela se despede de sua
familia, com 700 dolares no bolso, uma violão nas costas, uma mochila
com algumas roupas e um litro de jack, sem falar de sua jaqueta de
couro.
Ele
então passa por todos os restaurantes de beira de estrada que eles
tinham tocado no final dos anos 60, procurando por informações que
pudessem leva-la a Marlon. Ela então segue a trilha deixada a Marlon, e
para sua surpresssa, todos os bares que ela ia, Marlon ja tinha passado
por eles...Julgou que teria que permanecer menos tempo possivel nesses
restaurantes, se quisese alcança-lo.
Então, aos 2:10
da musica, eles finalmente se encontram num motel, numa pequena cidade
no interior do Louisiana. Depois de tomar algumas cervejas, os dois se
instalam no quarto de motel que Marlon tinha alugado. Lá, eles transam
por horas, transaram como se não houvesse o amanhã...Na verdade, não
transavam assim há dez anos...
Cinco
da manhã, a libido dos dois ia discansando, Marlon diz a Pamela: "É bom
que você veio. Estava te esperando. Mas não ache que viemos apenas a
fazer os mesmos passos que fizemos há 20 anos atrás".
- O que viemos fazer nessa peregrinação? - perguntou ela.
- O intento é achar o Joe e a Suzie.
- Então, nossa viagem tem destino a San Francisco?
- Exato
Até
chegarem a San Francisco, eles ficam vagando pelo sul dos Estados
Unidos, conseguindo arrecadar um dinheiro razoavel com suas
apresentações nos bares de estrada. Em São Francisco, eles encontraram
Suzie, curiosamente, tocando no mesmo bar que eles iam tocar. Mesmo com
seus 50 anos, Suzie continuava bela e bem humorada, que nem no dia que a
conheceram. Quando elas os viu, ficou extremamente surpressa:
- Marlon? Pamela? São vocês mesmos?
- Sim, pode ter certeza - repondeu Pamela.
- Inacreditavel...Eu não vejo vocês desde de 1972. O que fizeram nesse tempo todo?
- Tivemos filhos,casa, essas coisas...
-
É, eu tive filhos, eu me separei duas vezes, mas vocês estão juntos até
hoje! E vocês estão bem conservados também...Envelheceram bem - disse a
Suzie.
- Você também está maravilhosa, depois de todos esses anos - respondeu Pamela.
- Obrigada. Vamos beber alguma coisa ou vamos só ficar nos elogiando? - pergunto Suzie.
- Por mim tudo bem - respondeu Marlon.
Eles
conversaram sobre os ultimos meses que passaram vagando por mais de 5
estados. Então falaram para á Suzie o intento de toda aquela aventura:
encontrar ela e o Joe, assim poderiam empreender uma viagem ainda mais
-
O Joe já faz muito tempo que eu não vejo...Nós terminamos em 1975, mas
nada nos impediu de continuar a ser amigos...Só que, em 1986 a mulher
dele, sendo a ciumenta que é, o proibiu de se encontrar comigo...E eu
não o vejo a mais de 10 anos. Ele ainda mora na mesma casa, no outro
lado da cidade.
Procurando por Joe
No
dia seguinte, Marlon e Pamela foram pra o endereço que Suzie tinha
indicado. Chegaram então num bairro tipico de classe média, naquelas
tradicionais ladeiras hingremes de São Francisco. Viram uma casa na
metade da ladeira, e então apertaram a campanhia. Um minuto depois, uma
mulher de meia idade abriu a porta e perguntou: "Sim, o que posso
ajudá-los?".
- Nós gostariamos de saber se essa é a casa de Jonh Malscot - perguntou Pamela.
- Sim, eu sou Barbara Malscot, sua esposa.
- Ele está?
- Não. E o que vocês querem com ele? Vocês não são os amigos dele, são?
- Somos velhos amigos dele sim, só que não o vemos há uns 20 anos...
-
Seja o que for que vocês querem com ele, eu sugiro que não voltem aqui
nunca mais...É por causa de amigos como vocês que ele está morrendo no
hospital - disse ela.
- Ele está morrendo? - perguntou Marlon atonito.
- Sim. O que a bebida e o cigarro não fazem com um homem, não é mesmo?Ao invez
dele me ouvir, ir pra igreja, ser uma pessoa normal como todo mundo,
ele só teve ouvidos para pessoas que nem vocês...Aliás, como que vocês
descobriram esse endereço, eu posso saber?
- Por uma amiga nossa,
também uma velha conhecida dele. Seja como for, não somos responsaveis
pela decadencia dele, pois não o vemos desde de 1972.
- Suzie, eu
imagino...Quem é amiga daquela biscate não merece minha confiança, agora
passar bem, que eu tenho que continuar a fazer o jantar de meus filhos -
disse ela depois de fechar a porta.
- Ela é uma pessoa bem gentil, não acha? - perguntou Marlon.
-
Não sei como o Joe se envolveu com uma mulher dessas... - respondeu
Pamela - Ele sempre foi uma pessoa boemia e espontanea, sabe...Como foi
se casar com uma mulher como essa?
Na calçada, eles ouviram uma voz adolescente atrás deles:
- Hei, vocês de couro!
Eles
se voltaram para atrás, e viram um menino com camisa do Lynyrd Skynyrd,
que tinha um cabelo semi-curto e estava na casa dos quinze anos.
- Vocês não são Pamela e Marlon?
- Sim! - disseram os dois simultaneamente.
- Meu pai me falou sobre vocês, mas nem acredito que vocês existem de verdade!
- Bom, eu creio ser bem real, e você Pamela?
-
Eu ouvi a conversa da janela do meu quarto. Minha mãe não gosta antigos
dele, como podem perceber...Ela fez uma lobotomia nele, mas não teve
tanto êxito...Enfim, ele está em estado terminal no hospital, e ficaria
muito feliz em ve-los novamente! - disse o garoto.
O
garoto então os levou até o hospital aonde ele estava internado.
Chegando na sala aonde Joe se encontrava, encontraram um homem
debilitado, cheio de aparelhos em volta do corpo. Magro, doente, ele
também estava sem cabelo, devido a quimoterapia.
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