terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Devaneio nos livros - Mundo de Sofia

Mundo de Sofia não foi só o livro que me motivou a começar a ler as obras de alguns filosofos, como também, me levou a ler qual quer coisa: desde de livros que falam da história medieval até livros de Nietzsche. Claro, há muitos livros que ainda precisam ser lidos (um Schopenhauer, por exemplo), mas depois de decorridos 2 anos da primeira vez que li este livro escrito por Jostein Gaarder, a atual fase que estou é apenas o começo de uma experiencia que durará a vida inteira. Vamos então, ao meu devaneio...



Dia 24 de dezembro de 2010

Foi neste dia fatidico que eu decidi cortar o cabelo. Ele já era consideravelmente grande, porem, depois de ter decidido cortar as pontas varias e varias vezes, bom, digamos que o meu cabelo estava uma merda. O arrependimento de te-lo cortado foi tão grande que não tava conseguindo dormir naquela noite. Eu parecia um Skinhead, ou algo assim...Não tinha só perdido alguns fios de cabelo, mas sim, uma parte de minha identidade. Eu estava exausto, porem, não conseguia dormir. Olhei para a gaveta do meu quarto e cogitei a possibilidade de ler aquele livro..."Mundo de Sofia"...Lembro-me que minha irmã tinha o lido em 3 dias, como sempre o faz com romances. Até lembrava do pouco que ela tinha me contado, mas eu achava que naquele momento, eu precisava de algo que me fizesse dormir, então, aceitei o desafio de ler pelomenos as primerias 10 paginas. 

Então, já nas primeiras paginas, o livro me surpreendeu. Só cessei de ler quando o sono era arrebatador e eu estava muita mais interessado nas questões que permeavam aquelas páginas inicais do que o corte de meu cabelo. Consegui então dormir, impressionado por ter lido, 40 paginas numa madrugada...
Uma jovem norueguesa que de repente é acometida por uma série de duvidas que a levam ao peculiar exercicio da meditação, a qual, não tinha experimentado até então...Eu estava vivendo, numa situação análoga a Sofia, e isso, me impressionou muito, como também, me fez me indentificar com a protagonista.





A maxima que a faculdade de se surpreender é uma faculdade que possibilita o filosofar, não poderia ser mais verdadeira...Era assim que me sentia naquele momento: surpresso. Quando não somos capazes de nos surpreender com mais nada, tudo a nossa volta se torna obvio e evidente, e assim, nossa mente se fecha a valores pré-estabelecidos. E o que faz com que estudemos a Segunda Guerra Mundial, ou a história de Alexandre Magno afim de entender o contexto histórico da antiga Grécia do século 3 a.c e seculos seguintes se poderiamos muito bem ficar assistindo tv e indo á balada? Muito simples, este se surpreender no mundo, se admirar no mundo é que é o motor de nossos estudos, aquilo que nos motiva. O homem, também não se limita a admirar o mundo, ele é movido por uma curiosidade imensa, e ela, o faz querer conhecer o mundo, e até, dominar o que puder dele, chegando a conclusão que sua ambição é limitada pela sua finitude.

O peculiar modo como Alberto Knox, professor de filosofia de Sofia, ensinava a ela alguns preceitos e máximas de alguns filosofos, também me intrigara. Como na parte em que, para que Sofia compreende-se como era a teoria atomista de Democrito, ela brinca com suas peças de lego que ela tinha abandonado. 

O livro, no primeiro momento, também serviu para voltar a meditar sobre questões que foram deixadas pelo meu antigo professor de filosofia do primeiro ano do segundo grau, a qual, não tinha prestado muito atenção. Como a teoria dos pré-socráticos, por exemplo.

Repercursão

Minha expectativa era que eu lesse o Mundo de Sofia em 6 meses. Terminei o mundo de Sofia em duas semanas! Estava muito alem da minha espectativa, porem, eu li longe do rigor necessário (e olha que não estamos falando de uma obra de leitura complexa). Não tinha educado minha leitura, e então, voltei a ler este mesmo livro várias e várias vezes, até não precisar mais dele como fonte de consultas. Esse livro me interessou tanto, que decidi então procurar ler a obra dos filosofos citados na obra. O que até hoje estou fazendo é claro, e não só me limitando aos filosofos mostrados no livro, como também, aqueles que me dispertaram algum interesse. Me é bastante peculiar o fato da leitura do mesmo livro ter sucitado comportamentos totalmente dispares em mim e minha irmã. Minha irmã, ao que percebi, se focou na história e na trama em si. Eu, me foquei na parte mais didática e tecnica, o que fez com que eu corresse atrás de artigos, livros, e enchertos filosoficos que poderia conseguir. A experiencia que eu tive com o livro foi mais intensa, do que a minha irmã teve (que se encerrou na semana que reservou para lê-lo). 
Sou grato por este livro, mas ele não seria o unico livro que recomendaria para alguem que eu estivesse ansioso em colocar no caminho da pesquisa e do estudo das ciencias. Os livros que eu recomendo, e recomendaria para qual quer um, são, respectivamente: "A logica dos verdadeiros argumentos" de Alec Fisher, "Principe" de Maquiavel, "A arte da guerra" de Sun Tzu, o "Crepusculo dos idolos" de Nietzsche. Foi neste ultimo que compreendi o que separa as escolas de pensamento idealista e materialista, a primeira, afirmado o primado da idéia sobre a existencia, e o segundo, afirmando o contrário, o primado da matéria sobre as idéias que não são anteriores ao ser cognescente. 

Hoje, é claro, a obra já não me satisfaz e fala sobre os filosofos de uma maneira superificial e rasa, mas ela é importante para o inciante e para aquele que não está familiarizado com a filosofia. Me decepcionou o fato de ter sido reservado apenas um paragrafo a Nietzsche. Mas isto fica claro, pois o Gaarder se revela um filosofo deista, e por isso, ele evita o iconoclasta alemão.

Conceito geral da obra: o criador e a criatura

A obra fala do conceito do criador que se confunde na condição de criatura. No livro inteiro, eles são atormentados por um "Deus". Sofia e Alberto conseguem chegar ao mundo metafisico, graças a vontade deste Deus, porem, o que ocorre depois é imprevissivel até para este Deus, pois ele mesmo possibilitou que este "final em aberto" fosse possivel. Mas veja bem, há um Deus que é criatura de outro Deus, de outro criador onipresente (o proprio Jostein Gaarder). E isso parece levar há uma serie infinita de criadores e criaturas...Jostein sendo criatura de outro Deus, este deus sendo criatura de um outro...Assim por diante. Não há motivos para fazer essa regresão parar em um ponto não causado, como querem os escolásticos.
"Há relações de causa e efeito neste mundo, de tal modo que, um motor movimenta o outro. Se fizermos uma regressão, a regressão irá parar na causa que não foi causada, e essa causa é Deus"...Pois bem, esse argumento não seria falacioso se admitise que não há uma causa não causada. A primeira premisa diz que sempra há uma causa causada e depois a conclusão estabelece o contrário? A pergunta que fazemos para derrubar este argumento é simples: "Quem causou Deus?"
A obra também toca na questão do livre-arbitrio estabelecido por Deus. Esta liberdade concedida por Deus revela um querer que já supõe sua ditadura divina sobre suas criaturas, ou seja, uma liberdade condicionada, um principio contraditório. É estranho pensar que aquele Deus fez, de proposito, que suas criaturas conspirassem contra ele, quase que como se divertise com seu cinismo mordaz.
Ou o momento que este Deus passa a ser criatura de sua filha? Vemos os papeis se invertem constantemente...

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