domingo, 23 de dezembro de 2012

Cinema do meio da floresta 3 - filmes cults

 Por muito tempo os preconceitos que eu nutria pelo cinema europeu serviram como uma carapuça diante de meus olhos. Eu via estes filmes cults como o cego de nascença admira um por-do-sol. Nos ultimos tempos, começei a admirar estes filmes, que não dão respostas prontas e de facil similação. Depois de muito tempo, acostumado aos filmes de Hollywood, me surpreendi pelo experimentalismo do cinema europeu, experimentalismo este que torna impossivel erigir um cinema homogeneo e com formulas previsiveis no velho continente. 

Sobre os dois filmes que apresento a vocês, me limito a dizer, por enquanto, que foram filmados na França com diretores que não eram franceses.

Há spoilers nessa merda, mas eu me esforço para que eles não sejam tão grotescos. Mas por sorte, minha descrição dos filmes é tão vazia, que creio que você não achará spoilers "nocivos"...




A Dupla vida de Veronica/Krzysztof Kieslowki

O filme mostra a vida de duas Veronicas, que alem de ser identicas uma a outra, nasceram na mesma data, tem as mesmas personalidades,  as mesmas habilidades vocais (ambas são eximias cantoras de musica erudita) só que moram em diferentes lugares: uma mora em Varsovia e outra em Paris. O filme começa mostrando a Veronica polonesa, já exibindo seu vocal fodido e explendido (creio que ela seja um daqueles contraltos muito raros, devido as notas que atinge...Mas é só um mero palpite, pois não sou um especialista em canto).  Mais tarde, depois de sofrer algumas dores fuminantes no peito, ela morre em uma grande apresentação, pois seu fragil coração não aguentou seu vocal poderossisimo (há algum simbolismo ai? Responderei em breve meu parecer).

 Uma das melhores cenas do filme...Essa musica vai se repetir várias vezes durante o filme. Será que essa musica assume o papel de um requiem da Veronica polonesa?

Depois da morte da Weronika, o filme se foca na história de Veronique. Já sentindo um vazio, como se uma parte dela tivesse morrido. Ela então dessiste com sua carreira como cantora, sabendo que não poderia continuar sua profissião de cantora devido ao seus problemas cardiacos. Ela então se aproxima de um enigmático títere, que se comunica com ela atraves de estranhas gravações contidas em fitas. Nestas gravações, há apenas sons de carros, buzinhas, trens, e outros sons cotidianos nas grandes cidades...As cenas em que ela está escutando essas fitas parecem serem bem non-senses, todavia, ela chega a conclusão que aquilo é apenas um enigma a ser solucionado, solucionando-a, saberá ela aonde e onde achar este títere. 
Eu gosto muito da cena em que o títere a procura na rua e ela foge dele. A cena que ela se esconde num apartamento numa encruzilhada de duas avenidas moviementadas é outra cena impressionante...O enquadramento da camera é muito bom, aonde a camera fica atrás de um vidral e acompanha o misterioso títere andando pela calçada, tentando encontra-la. 
Em diferentes momentos, encontramos as mesmas personalidades que apareceram para Weronika antes dela morrer: a mulher mal encarada, que vitava Weronika com desprezo e frieza, e a velha senhora. Serão estes um prelúdio para a morte de Veronique? A essa resposta, deixarei o filme responder.

Quanto a metafora que o filme quer nos mostrar, tomo a libertade de colocar aqui a interpretação que Kieslowski faz sobre sua obra numa entrevista: "O filme quer mostrar que tanto uma pessoa que vive em um país comunista, como em um país capitalista, uma pessoa atéia ou uma religiosa sentem as mesmas necessidades, as mesmas tristezas, aflições, desilusões...". Essas duas Veronicas fazem parte dessa metafora que individuos, mesmo separados por culturas ou até mesmo etnias diferentes, são acometidos pelas mesmas necessidades e aflições. Mesmo sendo pessoas que nasceram em lugares diferentes, são as mesmas pessoas, são a mesma humanidade...
Quanto a morte de Weronique, creio q sua morte representa a morte do comunismo no leste europeu. A voz que ecoava de um sonho antigo, morre diante da nova realidade, de um novo mundo. 



O fantasma da liberdade/ Luis Buñuel

O filme está longe de ser um filme linear, com um final definitivo, ou como uma moral a ser ostentada. O filme é, como muitos filmes do Buñuel, uma parodia dos costumes decrépitos das instituições sociais e da burguesia, mas também há senas muito estranhas que, acredito eu, nem Luis Buñuel saberia responder qual é o significado delas...Mas são cenas que revelam a criatividade e o seu genio, ora apreciado pela nação que o acolheu (a França), ora desprezado por seus compatriotas franquistas. Enfim, veremos que é do feito de Buñuel brincar com os costumes que estão tão fundamentados em nossa vida cotidiana...Merece também admiração a naturalidade como termina uma história para começar outra.


A primeira cena já é bem interessante: Depois que os franceses ocuparam uma igreja (não sei bem se no periodo das Guerra Napoleonicas, ou na Revolução Francesa),  desenterram o corpo de Dona Elvira e o encotram totalmente preservado. É interessante notar o momento que entra a narradora e depois nós somos transportados para um banco de praça, com um mulher lendo um livro...
Na praça, um estranho entrega imagens que parecem ser obcenas as garotas que são as protegidas da narradora da cena anterior. Quando elas entregam as fotos aos seus pais, eles censuram aquelas imagens como se fossem imagens pornograficas, porem elas não passam de fotos de monumentos históricos. Por que o repudio a essas fotos? Talvez elas remetam as lembranças de um mundo que precedeu este mundo capitalista, e por isso, eles o censurem, mesmo guardando uma obscura e discreta admiração pelos tempos antigos. 
Quanto a cena que aparece um carteiro, uma mulher de vestido preto e um emu no quarto do casal burguês? Bem, eu não sei dizer o seus significados, acredito que é mais uma passagem non-sense (quem disse que tudo tem que fazer sentido?).

Para não aborrecer meus leitores com spoilers grostecos, como este que coloquei agora pouco, meditarei sobre algumas cenas que merecem nossa atenção e depois finalizarei minha resenha. A cena em que eles se sentam em privadas, merece nossa atenção pela inversão de funções entre a sala de estar e o banheiro, que acabam se confundido...E o assassino psicopata que é adorado depois de sua sentença de morte? Estaria Buñuel tentando nos dizer que essa seria a atitude digna que as pessoas teriam que tomar ao invez de desprezar e repudiar esses assassinos, já que, não são só eles que são doentes, como toda a sociedade é doente e merece ser, assim repudiada? Repudiar um assassino é um ato hipocrita?
E quanto ao final? E por que o filme se chama "Fantasma da Liberdade"? Seria por que um dos principios deixados pela Revolução Francesa não passa de um mero ideal que se dissipa logo que percebemos que estamos condicionados ás necessidades e aos outros? Existe liberdade com os outros? O maldito dilema existencialista, nosso fardo maior, não deixa de ecoar, mesmo aonde não há precipicios: "Não se vive sem os outros e com os outros".

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