terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Devaneio nos livros - Cesar Borgia, o Mafioso

O Principe, livro este que foi escrito nos ultimos anos de vida de Nicolau Maquiavel, conhecido como o marco bibliográfico da ciência politica (e não há considerações exageradas quanto a este fato), nos revela argumentos muito bons e máximas que, de fato, foram corroborados pela experiencia histórica. Se Sun Tzu escreveu um eficaz manual de como ser um comandante bem sucedido num campo de batalha, Maquiavel escreveu o manual de como ser um “bom governante” (sendo que tanto o governante quanto o comandante podem ser a mesma pessoa). Para Maquiavel, existe uma moral politica, que diferente da moral cristã, não condena os atos em si mesmos, considerando que um ato violento pode ser benéfico para uma nação/reino em determinado contexto...
Se tem alguém, que para Maquiavel, servia como modelo de governante, esse alguém era Cesár Borgia, filho do Papa Alexandre VI. Ao contrário de alguns príncipes, que mesmo tendo a sorte de terem nascido numa família real e a envergonharam por suas ações, Cesár Borgia sabia muito bem usar da influencia de seu pai, como também, poderia continuar a governar a Romanha, mesmo com a morte de seu progenitor e com a eleição de um papa que lhe fosse hostil. Na verdade, faltou muito pouco para que Cesár Borgia construi-se um grande império...Para Maquiavel, só um homem como Cesár Borgia seria capaz de unificar e governar a Italia.



Maquiavel, contrapõe Cesár Borgia há Luiz XII, rei da França. O primeiro sendo um horizonte a qual o príncipe deve se guiar e o segundo sendo um mau exemplo de governante. Antes de discorrer sobre ambos, devemos prestar atenção a duas máximas básicas para manter uma colonia com costumes e línguas dispares ao conquistador:
      1. O Rei/Príncipe deve estabelecer sua residencia no território conquistado, pois assim ele poderá dar respostas rápidas as rebeliões que ocorrerem em seu cerne. Há isso ele dá o exemplo do Sultão otomano Maomé II, que estabeleceu sua residencia na Grécia no seculo XIV, depois de ter fundado o império Otomano. É bom lembrar que a Grécia só consegui sua independência do Império Otomano no seculo XIX, na década de 1830, se não me engano. Em outras palavras, em 4 séculos depois de Maomé II ter ali estabelecido seus domínios.
      2. Dar plenos poderes à lideres debéis, enfraquecer ou aniquilar lideres estrangeiros e personalidades fortes ou influente. Se o rei compartilhar seu poder e domínios com lideranças tão poderosas quanto a sua, em breve, essas lideranças irão se voltar contra ele e poderão destrona-lo, enquanto que os lideres debéis não oferecem nenhuma ameaça ao poder do conquistador.
Luiz XII, ao conquistar o norte da Itália, no inicio do seculo XVI, tinha o apoio dos conquistados (os venezianos), mas logo perdeu seu prestigio com seus equívocos...O primeiro de seus erros foi dar apoio bélico à Alexandre VI para conquistar a Romanha. Se ter dado suporte a uma personalidade influente não fosse o bastante, ele ainda dividiu o reino de Nápoles com o rei espanhol, outro líder influente. 

Segundo Maquiavel, os romanos aplicavam de forma louvável as duas máximas supracitadas, até o momento que começaram a substituir suas armas próprias por exércitos auxiliares de bárbaros, a saber, os germanos e os francos. A exemplo disso, Maquiavel coloca que, quando os Etólios fizeram uma aliança com os romanos contra Felipe V da Macedonia, a vitória sobre a Macedonia, no século II a.c, não foi uma vitória dos Etólios, e sim um vitória romana, que tendo vencido um inimigo comum, ainda subjugou, assim, os Etólios e os reduziu a condição de província romana.

Cesár Borgia, ao contrário de Luix XII, aproveitou muito bem a sorte e se valeu de sua astucia. Para ocupar a Romanha, ele se valeu de tropas auxiliares francesas. Depois, ele compôs seu exército com forças mercenárias da família Orsini e Vitteli. Vendo que elas eram indisciplinadas e pouco confiáveis, Borgia criou, na Romanha, um exército próprio. É bom lembrar que Cesár Borgia primeiro deu alguns benefícios aos integrantes da família Orsini, para depois mata-los, já que havia muitas pessoas influentes pertencentes a ela. E ele mandou matar cada um de uma só vez...Quase como um mafioso faria...Na verdade, eu lembrei muito da famosa cena do Poderoso Chefão em que vários chefes de famílias mafiosas vão sendo sumariamente assassinados ao mesmo tempo que está ocorrendo o batismo do filho da irmã de Michael Corleone. Religião e assassinatos...Algo muito presente na vida de Cesár Borgia, e por isso, associei esse clássico do cinema com o livro que li recentemente.
Em resumo, Bórgia primeiro acalmou a fera, a alimentou e deu abrigo, para depois extirpa-la, o que seria impossível se não a tivesse domesticado e manipulado, enfraquecendo-a. 


“Paolo Orsini, o duque de Gravina e Frangiotto eram membros da liga contra o duque Valentino (Cesar Bórgia). O cardeal foi envenenado no Castelo Santo Angelo, por ordem do papa; Paolo e o duque de Gravina foram estrangulados em Sinigaglia por ordem de César Borgia” (antoações de Antonio D´Elia).

Frente a desestruturação do reino da Romanha, o duque Valentino (titulo que Borgia tinha recebido de Luiz XII), viu a necessidade de alguém que ajeitasse as coisas, então delegou o governo a Remirro de Orco, um homem cruel e autoritário, pois acreditava que era com a mão de ferro que iria se resolver os problemas mais latentes da província recém conquistada. Depois disso, para que todo aquele autoritarismo não culmina-se em revoltas, ele concedeu maiores liberdades ao povo da província, estabelecendo um tribunal civil com representantes comunais, de cada comuna ou cidade da Romanha. Uma republica muito similiar a nossa, aonde há um presidente e os prefeitos que representam cada cidade de nação.
Cesár Borgia sabia jogar o jogo politico, sabia usar os meios quando necessários. Maquiavel não se preocupou com os meios violentos, ou se Borgia era um homem bom ou mau. Seu foco é nas suas habilidades terrenas, como também, na sua astucia digna de um mafioso...

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