segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Cronicas do Conhaque com Gelo 5 - O lenhador estrábico e a pequena montanha de stoner metal

O lenhador estrábico

No pé de um morro, próximo a uma floresta de pinheiros, vivia um historiador aposentado que passava as suas tardes cortando lenha ou andando pelos bosques. Certo dia, numa manhã de outono, ele foi visitado por dois Testemunhos de Jeová que estavam distribuindo panfletos de propaganda religiosos. No decorrer da pequena discussão que o historiador e os religiosos tiveram, o historiador havia dito aos crentes que o interrogavam sobre sua descrença: "Eu estou inclinado a considerar que a verdade absoluta que vocês querem impor ao mundo, não passa na verdade de uma das muitas interpretadões que existem da verdade, e esta verdade não se diferencia muito dos outros mitos que já foram disseminados no mundo, mas mesmo assim, é estranho pensar que há muitas pessoas que se ofendem e até vêem com desdem a possibilidade de ser um mito como os outros. Eu poderia tentar convencer vocês disso, todavia, você já fizeram uma escolha, a escolha de considerar seus dogmas como acima de qual quer coisa e vê-los como verdades literais; e eu, por outro lado, optei em observar esses mitos como uma forma que vários grupos de pessoas encontraram para dar algum sentido a existência, eximindo-a da ausência de proposito, que a priori, o mundo tem".



Segundo Sartre, a fomentação de valores, é um meio pelo qual o homem busca criar um sentindo para o mundo. Em um dos contos contidos em Le Mur (o muro), Sartre descreve um homem que se converte ao fascismo, sendo que o seu anti-semitismo é um meio que ele encontrou para fugir de sua condição humana, de se refugiar, ou até superar a ideia de viver por acaso num mundo sem significado. Com a ideologia a qual carregas, ele sente que o mundo tem um significado, e segundo Sartre, a sua decisão de aderir a ideologia fascista foi uma decisão totalmente consciente, mesmo que, ele tenha se mostrado muito influenciavel na sua escolha. Ele adere ao grupo para tentar negar a sua responsabilidade por agir por si mesmo e agir em um prol de um grupo, negando até o fardo de sua liberdade, num comportamento e tendencia que Sartre chama de Má-fé.

O historiador aposentado também parece concordar com Sartre, acusando os crentes de agirem de má-fé. Mas não estaria o historiador, dentro do âmbito de sua lógica, também agindo de má fé ao ter se tornado historiador? Oras, estudando história, construímos uma visão de mundo peculiar, e não seria o estudo da história um meio de encontrar um sentindo para a existência?

Não creio que toda a associação de um ser-ai a um grupo a qual ele tenha se identificado possa ser má-fé (apenas quando ele segrega o seu pensamento ao pensamento do grupo), e também não creio que todas as nossas decisões ou escolhas sejam conscientes, como Sartre talvez anseie afirmar, já que, pelo pouco que eu sei, ele é um opositor da Psicanalise Freudiana.

Para concluir este pequeno artigo, não poderia deixá-los a mercê, no vácuo, sem antes descrever o conceito de liberdade nas palavras de um de seus biógrafos, Philipy Thody:  "Seu conceito de liberdade é bem representado na distinção que Sartre faz entre o homem e os animais e vegetais. O desenvolvimento destes últimos é determinado pelo meio-ambiente e a estrutura genética. O homem, por ser livre, só pode seguir um arquétipo: aquele que ele próprio apontar, 'perpetuamente escolhendo-se ser o que é. Como explica Sartre num ensaio sobre Descartes, escrito em 1945, a liberdade consiste não em se o que se quer, mas em querer fazer o que se pode. Sartre descobre em Descartes o seu próprio ponto de vista de que o homem conhece a sua liberdade atraves da experiencia imediata que ela tem".

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