sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Cronicas de uma sala de aula

Primeiro dia de aula, do primeiro ano do ensino médio duma escola qualquer. Um jovem extravagante, de cabelos longos com cavanhaque cobrindo o queixo, entra na sala de aula e senta na carteira do professor. O volume das conversas paralelas começa a diminuir aos poucos, até que o silencio volta a reinar naquela sala quando aquele jovem dá três suaves batidas em sua mesa. 

"Meu nome é Artur Stinghen Barz" disse ele, "e eu lecionarei para vocês Historia, mas creio que 'Filosofia da História' seja um nome mais fidedigno a matéria a qual vou passar, ou melhor, tentar passar para vocês".
Ele pausa um pouco e continua o seu monologo:



- Eu poderia vir aqui e dizer para vocês mil coisas que convencessem vocês que o estudo e a meditação da história é uma coisa extremamente necessária para vocês, e que se vocês não a estudarem, por bem ou por mal, vocês não seriam ninguém na vida...Bom, mas isso não é verdade. Muitas pessoas, em diferentes momentos da história, levaram uma vida muito boa mesmo sem saber se o Brasil foi colonizado por orangotangos ou por franceses, por exemplo. Estamos rodeados por pessoas que não deixarão os vestígios de sua existência na história. E eu não vou aborrece-los com discursos idealistas, não irei iludir vocês...Para mim vocês não são pessoas especiais, e compartilhamos uma reciproca mediocridade, é ela que nos une. 'A mediocridade é uma mulher muito cortejada e fodida', assim dizia Artur Barz. E eu também disse, para minha irmã, no inverno de 2013, que "Em terra de bosta, o medíocre é rei". Algumas vezes me senti um rei, é verdade, mas isso falarei mais tarde. Mas que infeliz professor é este que já lhes concede um problema, logo no primeiro dia de aula...Por que estudar uma matéria que não tem uma utilidade pratica? Por que ficar ciente dos grandes feitos de Alexandre, Anibal, ou Genghis Khan, se este conhecimento não coloca comida em minha mesa? A mesma pergunta poderia ser feita a Einsten por ele se aventurar num mundo de abstrações matemáticas, ou por outros cientistas que mais se davam bem com números do que com pessoas, mas é por causa de suas aventuras, como também, do conhecimento de cientistas que o precederam, que vocês tem celular, computador e Ipod. Assim como um exército pode vir a ruína se o comandante desobedecer os ensinamentos de Sun Tzu, o Principe, se ignorar os mandamentos de Maquiavel, está fadado a perecer. Então são coisas que não podem ser ignoradas, mas são. Vocês, assim como eu, não tem ideia de como essas parafernálias tecnológicas funcionam, quais princípios fazem elas funcionarem.
Nós somos todos cúmplices de uma grande alienação de nosso tempo. Primeiramente, todos nós, já nascemos num mundo que foi nos dado, e há uma passado milenar que precede o nosso nascimento. Quando vocês chegam a adolescência, seu conhecimento de história, muito provavelmente, se resume há certas premissas, como aquela que diz que o homem vivia em cavernas e hoje vive em prédios. Muito bem...Vocês podem se conformar com este conhecimento, mas terá alguns de vocês que vão sentir um enorme vazio deixado entre a pré-história e a era contemporânea. "Então existe a pré-história e depois a era contemporânea...Mas o que existe entre essas eras?". A história é como um túnel subterrâneo que corta uma montanha. Nós sabemos aonde vamos chegar, como também, sabemos mais ou menos aonde começar, todavia, não sabemos o que vamos encontrar no meio do caminho, se iremos encontrar rochas muito duras, ou, talvez, diamantes radioativos que nos transformarão em zumbis devoradores de vinis de Rock Progressivo. Para compreender a história da Itália, por exemplo, nós partimos da formação da Roma antiga, e tentamos chegar até a Itália contemporânea. Nesta jornada, vamos encontrar um pouco de tudo...Vamos encontrar o passado glorioso do Império Romano, vamos ver o gigante império se reduzir em pequenas republicas e reinos que mal conseguiam se relacionar entre si mesmas, veremos a Itália ser espoliada por tudo que é tipo de povos...Teremos uma história tão fantástica como a que vemos nos livros de ficção. E se ainda, mesmo assim, permanece a pergunta "Pra que estudar a história desse ou outro povo?", responderei que a relevância reside no simples fato de ver aquele ou outro povo sem apelar para afirmações precipitadas, e se não fosse obstante, o entendimento da história, nos permite compreender como o nosso mundo atual se tornou possível...Como que nosso mundo atual se construiu? A nossa sociedade atual, é baseada na revolução francesa, que superou o regime do Absolutismo Monárquico, mas ainda há outros episódios que construíram nosso mundo atual...Vocês verão esses episódios algum dia, creio...



O professor, então, retorna a sua carteira e continua seu monologo:

- Bom, já dei uma introdução básica, vou falar dos meus métodos de avaliação. Primeiro, a caligrafia e o capricho dos trabalhos pouco me interessa. Se a letra de fulano for ilegível, ele virá aqui, na frente da sala, e irá traduzir o seu trabalho. Pode até entregar num pequeno bloco de notas, ou em guardanapos se quiserem. Podem entregar o trabalho aonde vocês me encontrarem, na condição que for dentro da data é claro. Por exemplo, se vocês me encontraram num barzinho aqui perto, numa clareira no meio no mato, ou talvez, deitado em baixo de uma árvore, vocês podem entregar o trabalho para mim. Teremos 14 aulas por bimestre, sendo que eu fecharei as notas na décima, decima primeira, ou décima segunda aula. Nas aulas restantes, nós teremos algo que eu chamo de "aula do ócio".

Aulas de ócio

- Então, o que seriam as aulas de ócio...As aulas de ócio seriam aulas alternativas que ocorreriam nos últimos dias do Bimestre. Ao invés de, já no momento de fechar as notas, passar conteúdo novo, vocês seriam contemplados com algumas aulas "livres", digamos assim. Aulas em que vocês poderiam trazer o que quisessem para aula (com tanto que não tragam armas ou drogas ilicitas ou licitas). Brinquedo, violão, bangô, cálice sagrado que a sua família guarda a anos, bexiga, baixolão, trazer a sua namorada, seus pais, seus irmãos, trazer bicicleta...A aula de ócio é um trazer, um compartilhar...

Na aula do ócio poderia haver uma jam...Poderíamos compor alguma musica nessas aulas...Ou ensinar musica para quem tem interesse...Eu poderia ensinar um pouco de teoria musical, mas só isso no momento...Ainda não foi definido exatamente o que faremos nessas aulas, mas acho que é melhor não ter nenhuma programação pré-estabelecida para esses dias, pois, de algum modo, acho que tiraria a espontaneidade desta experiencia...

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