domingo, 26 de julho de 2015

A Terceira Geração do Cartoon Network: Jake Gumball.

Á minha geração, de crianças barbudas que nasceram na primeira metade do década de 1990, ou na segunda metade da década de 1980, assim como muitas gerações antes dela, são movidas e animadas pela falácia dos tempos de ouro. Tendo em mente isso, temos um tão cultuada "Cartoon Network antiga"...Antes mesmo de esboçar se quer um parecer sobre isso, vamos compreender o que foi e o que é a Cartoon Network Brasil, e para isso, eu a pensei em três períodos: Cartoons Cartoons, Ben 10 e Jake Gumball. 

A primeira diz respeito á aquela Cartoon Network que tantas pessoas, com mais de 20 anos, tanto idolatram, uma idolatria que chega a ser um pouco religiosa. Uma Cartoon Network que vai desde dos seus primórdios até o ano de 2008, mais ou menos. O período é conhecido tanto pelos clássicos, da Hanna-Barbera, como pela efervescência de desenhos criativos e originais, como "Vaca e o Franco", "Coragem: o Cão Covarde", e "As Terriveis Aventura de Billy e Mandy" só para citar alguns. 

Aos poucos, sem percebermos, a emergência do Ben-10 estabeleceu um novo quadro, e um novo direcionamento para o canal...Os antigos desenhos tão aclamados não tiveram nenhuma continuação, se estagnaram no tempo, talvez por falta de apoio e incentivo do próprio canal. Este período foi caracterizado pela predominância de Ben-10 (que é um desenho que eu detesto), e suas sombras, desenhos menores que não chegaram nem a rivalizar com os antigos que eram colocados no ostracismo.

Então, nos últimos 3/4 anos (se não estou enganado), a CN conheceu outro período: Jake Gumball, que eu chamei assim para prestar homenagem aos dois protagonistas das séries que eu mais gosto no canal: Jake (Hora da Aventura) e Gumball Waterson (O Incrivel Mundo de  Gumball). Este post será para falar deste período em especifico e suas séries animadas. 


O período Jake Gumball

Por meio deste post, anseio provar o valor dos atuais desenhos da CN. Consegui apreciar os novos desenhos quando resinifiquei o passado ao invés de apenas glorificá-lo. Não estou julgando esse novo período qualitativamente...Eu apenas quero dizer que nenhum dos períodos é bom em si mesmo, e haverá nuances boas e ruins que persistem tanto no glorioso passado como nesse presente. Num primeiro momento, falarei dos bons desenhos, que me fizeram acreditar novamente no canal; e depois falarei de algumas permanências que me incomodam. 

O Mundo de Gumball

Esse desenho já é bastante peculiar pela sua estética. Ele não é uma animação 2D, 3D, ele é tudo isso e um pouco mais...Por misturar várias formas de desenho, de animação, num mesmo mundo paralelo, ja é algo extraordinário...Digo, eu nunca vi isso antes...Nos desenhos, nós temos uma uniformidade nos traços dos personagens...Aqui isso não existe...

A série me chamou a atenção também por seu humor peculiar, seu experimentalismo, ou pela construção inusitada da narrativa...



Clarêncio, o Otimista

Clarêncio é um protagonista pouco crível. Ele não é uma criança bonita...Ele é um menino feio e gordo, que lembra um pouco um hipopótamo, mas mesmo assim, ele me causa ternura e simpatia. Meu destaque maior para essa série é o universo social que eles querem mostrar: um Estados Unidos de crianças mais pobres, que vivem em casas mais simples ou em traillers. Além disso, sua premissa simples, mostrando uma infância cheia de barro, de atividades ao ar livre, brincadeiras que envolvem objetos simples como papelão ou papel, são importantes em um tempo onde crianças de 4 anos já nem conhecerão o que é se divertir na rua ou nas arvores. 

Compartilho com vocês um episódio que mostra as mães de Jeff, o amigo perfeccionista de Clarêncio. Mostrar um casal homo afetivo fora do âmbito das sitcons adultas (Family Guy, Simpsons), me foi algo surpreendente. 


Titio - Avô

Cara, como descrever essa porra...Comecemos pelos personagens principais...O protagonista (Titio-avô) é um homem de meia idade que usa um macacão e uma pochete falante (WTF?). Ele mora num trailer com um dinossauro, um pedaço de pizza vivo, e um Tigressa surreal que solta arco-íris pelo rabo...Essa Tigressa voa e o Titio-avô possui poderes sobrenaturais e produtos mágicos...

O desenho é muito surreal, para dizer o minimo...Eu não via um desenho tão nonsense e louco como esse há muitos anos...Ele consegue ser mais louco que qual quer um dos clássicos.

Compartilho um episódio que mostra a importância de fazer bolos e de que comos os quadros depois dos episódios conseguem ser mais WTF? do que os episódios em si...



Apenas um show

Apenas um Show nunca foi um dos meus programas favoritos, eu sempre o via quando na falta dos desenhos supracitados...Mas ele é a representação de um novo tipo de desenho, focado em um outro mundo...Os desenhos supracitados, com exceção de Titio-avô, seus personagens são crianças ou pré-adolescentes. Os personagens do "Apenas um Show" são jovens adultos, isso é, seres acima de 20 anos que estão trabalhando no primeiro emprego, já não vivem mais na casa dos pais, estão cursando uma faculdade...Apenas um Show pode ser um reflexo do começo de uma tendencia no canal, de fazer desenhos direcionados ao antigo público do Cartoon que já cresceu e deve ter até seus filhos pequenos; mas, nem por isso, são completamente adultos...Ou melhor dizendo, o adulto de hoje em dia é diferente...Ele é um adulto que joga videogames e tem uma estrutura mental diferente dos adultos das gerações anteriores...


A Hora da Aventura

E deixei o melhor para o fim...É o desenho mais elogiado e amado do canal, no momento. 
O nucleo principal do desenho é Jake e Finn, sendo o primeiro um cachoro amarelo com o poder de se esticar e de tomar várias formas, e de Finn, que é um singelo garoto de 13 anos. Os dois vivevem num fantástico, paralelo, conhecido como o mundo de Ooo (que alguns irão dizer que se trata apenas da imaginação de Finn, mas deixarei as teorias e hipóteses para um post mais especifico). O mundo de Ooo é governado por uma variedade de princesas, e quando existe um rei (o Rei do Fogo, Rei Vampiro ou o Rei Gelado), ele são retratados ou como loucos, no caso do último, ou como déspotas no caso dos dois primeiros. A forma como o desenho retrata as personagens femininas é muito interessante, por dar empoderamento a elas, tratando-as como heroínas, ou personagens eminentes. Os vilões são sempre figuras masculinas (Lich e cia...), enquanto que as personagens femininas são quase sempre retratadas positivamente.

Apesar de ser governado por uma multidão de princesas, e por reis, não ficou claro por que se faz referência á reinos ao invés de principados. Não fica claro como funciona o aparelho estatal destes reinos (o que não é obrigação de um desenho animado para crianças barbudas), e existe, todavia, algumas coisas que eu não gosto muito neste desenho...Como a ideologia das boas monarcas (uma ideologia bem difundida na Disney, por exemplo), e a famosa binarização em "bem" e "mal", como indivíduos que se auto-intitulam vilões. Creio que o desenho poderia ainda ser muito melhor sem estes cliches...Sendo um desenho além do bem e do mal. 




O lado negativo da nova e antiga cartoon. 

Além da emergência destes desenhos originais e criativos, já supracitados, temos aqueles que me desagradam por seus projetos enfadonhos. Trasnformers, que já se tornou uma grotesca manutenção de um projeto já falido (como muitos outros no mundo cinematográfico), se tornou uma série na nova CN. Na nova direção, o canal fez questão de tornar a série Jovem Titãs mais acessível a um público mais amplo, considerando que a série estava muito sombria e pouco interessante para o publico infantil...O que fizeram? Transformaram a série em um projeto mais lúdico e caricato. A antiga série, mostrava jovens super-heróis e suas mazelas...Os personagens eram mais profundos, com seus seus problemas e seus monstros internos...Na nova série, é tudo mais alegre e fofo, que contrasta bastante com a atmosfera mais escura que se tinha anteriormente. Até Ravena está mais espontanea, e Robin não tem mais seu lado "dark". Todas estas mudanças devem ter trazido aversão aos antigos fãs da série; eu, por minha parte, nunca gostei muito da série mesmo, então estou pouco me fodendo (só relatei as mudanças orgânicas que o desenho sofreu a titulo de compromisso com meus leitores). 


Quanto á tão amada Cartoon Network dos velhos tempos, eu também tenho minhas ressalvas. Nem tudo ali era original e livre de criticas. Ao meu ver, os melhores desenhos da nova cartoon superam muitos dos desenhos clássicos. Eu não gosto de scooby-doo por seu formato muito estigmatizado e previsível. Nunca construí um elo muito forte com os clássicos da Hanna Barbera, mas sobre estes eu não posso ousar descrever com esmero por nunca ter tido tanto interesse em acompanhar estes clássicos. Tom e Jerry tem um projeto que já não me agrada como antes e Papa-léguas é um desenho que tão já se esgotou. Desenhos da Acme é uma eterna vitória dos protagonistas sobre seus perseguidores e detratores...E é isso...Nada mais como uma premissa irritante. Poderiam até ter sido originais em seus respectivos contextos...Mas...Vocês sabem, são novos tempos...


Turma do Bairro...Eu lembro quando essa série apareceu lá por 2004...Seu projeto começou a me desagradar ainda enquanto a série estava em andamento. Talvez até fosse uma peculiar metáfora da guerra de interesses entre adultos, crianças e adolescentes, sendo que os segundos, quase sempre, estão em alguma desvantagem quantos aos outros grupos. Mas acho que meu desagrado maior foi com um episódio em especifico, onde os idosos "malignos" ansiavam destruir todos os seres humanos que não fossem velhos como eles...A idiossincrasia me causou tanta aversão, que deixei de ver o desenho por definitivo.


Os desenhos da antiga CN que eu realmente gosto são Billy e Mandy e Coragem. Estes dois constituem obras de arte, talvez por terem propostas que nunca foram corrompidas pelos vícios dos clássicos. Coragem é um desenho que apareceu na hora certa e que durou o tempo necessário. Já me diverti muito com Billy e Mandy, que apresentava alguns rompimentos com as narrativas...Qualidades muito boas como bondade e altruísmo eram substituídas por valores menos honrosos, como indiferença, desprezo ou ódio...O que é, estranhamente, divertido. 

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