quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Relato de Viagem: Guaratuba e minha loucura Pink Floyd Hawkwind

No período que compreende o dia 2 de 4 julho de 2016, eu percorri 3 cidades de bicicleta: Itapoá, Guaratuba, e Matinhos. Aproveito este espaço para compartilhar o relato que eu fiz desta jornada em meu diário, "Diário do Bardo sem Bandolim, vol. 3". Como pretendo que o conteúdo integral deste diário seja de acesso público daqui alguns anos, não vejo por que razão não compartilhar um capitulo especifico dele. 

Observação: a experiência em si demorou 3 dias, mas demorou mais de um mês para eu escrever todo o relato...Não por que me faltou tempo, mas por que eu simplesmente não tive tesão de redigir a experiência com tanto afinco.

** 2/07/2016 **

- Guaratuba e minha loucura Pink Floyd Hawkwind - 

Devo dizer que estou enlouquecendo e que estou me matando...Mas antes de abordar sobre isso, eu vou fazer apenas um relato descritivo e cronológico da minha jornada á Guaratuba afim de fazer a primeira reunião do Veyne Ranke (eu explico depois). 

* 6:00 da manhã - Parti do cortiço mágico
*7:30 - Cheguei em Guaratuba
*8:30/9:30 - Cheguei na área urbana de Guaratuba.

Aprendi quer não é necessário tanto tempo para chegar em Guaratuba. Se não fosse por minha mãe, eu já teria partido no dia 30 para ir a um lugar que demora apenas 2/3 horas para chegar.
Se hoje fiquei entediado, nem imagino como seria se eu tivesse vindo para cá 2 dias antes. Eu iria mendigar por dois dias, e como alma errante, uma dor agonizante me dominaria. 

*18:30: reunião oficial do Veyne Ranke
*22/23 horas: Aí que as coisas começaram a desandar

De uma personalidade marcada pelo humor e entusiasmo, rapidamente me converti em cansaço e desânimo. Isso poderia se tornar um livro.
[Encontrei com os meus contatos, Jorge, Emerson e Victor]

Mais um show de merda, um "depender dos outros" de merda...Eu tinha duas opções: acampar em Guaratuba ou posar na casa do Emerson em Matinhos. Por muitas vezes fiquei persuadido com a pirmeira possibilidade, apesar de não saber se conseguiria dormir sob o solo duro da praia. Eu deveria ter optado por essa primeira. 

"São só 3 km a partir do Ferry Boat" me disseram. Esses três km, na verdade, eram uns cinco, cinco quilometros protagonizados por subidas extraordinárias, extremamente cansativas e extenuantes.
Meu estresse e cansaço já se encontravam em níveis preocupantes. Ao chegar naquela casa estranha, não consegui dormir mais do que 2 horas apesar de ter ficado mais de 30 horas sem dormir (um recorde realmente)

Desespero, pânico e arrependimentos me dominaram profundamente. Pensamentos como: "Por que eu não fiz tudo o que os meus pais me recomendaram? Eles me deram dinheiro e eu poderia muito bem ter ido de ônibus...Eu já poderia estar indo pra casa...".
Me descobri fraco, patético e sem estrutura mental para aguentar estar longe do meu porto seguro. Pensei "Se não consigo lidar bem com esta experiência, imagina viver á própria sorte na serra catarinense?". Me senti um inútil: "Acho que deste jeito eu nunca mais sairei de casa...Nunca serei independente...Eu nunca sairei de Itapoá...É muito fácil eu ter todos estes sonhos cultivados...Eu posso achar que é muito fácil fazer essas coisas, que é só pegar a mochilar e ir...Mas as coisas não são assim". 
Desiludido, eu me forçei a chorar, mas eu não consegui...
Minha desilusão me persuadiu a tomar a primeira e talvez a ultima decisão autêntica em minha vida. Deixei a bicicleta e levei apenas as roupas do corpo, a barraca e a mochila. Eu tenho algum dinheiro e aproveitei esse dinheiro para comprar uma passagem para o primeiro ônibus com destino á Morretes. É possivel que eu conheça a mãe/vó de vocês lá, quem sabe [Nota: eu escrevo o diário quase como se escrevese para algum parente no futuro]. Mas só o que vocês precisam saber é que eu desisti de tudo. Deixei para trás aquela merda de faculdade, desisti daquela merda de curso, e me lançei a algo totalmente novo e imprevisivel...Quais serão os desdobramentos dessa minha decisão? Veja nos próximos capitulos...

- [12/07/2016] Não, eu não fui para Morretes...Sinto em desapontá-los, mas eu só queria brincar um pouco com vocês...Mas toda a parte da crise existencial foi bem verdadeira.

- [10/08/2016] Minha anfitriã (a vó do Emerson) foi a pior anfitriã que eu já encontrei em minha confortavél e infeliz vida: a chamaremos de "Monstro dos julgamentos". Pelo que fez comigo, e pelo que continua fazendo ao seu neto, eu concedo a ele só mais 4 anos de vida, o que para mim significa até um tempo muito vasto para um ser tão vil quanto ela. Ela é daquele tipo de pessoa que não precisava existir, mas de fato, devo admitir que ela é importante para eu lembrar dos conflitos entre os velhos e os jovens, para eu compreender como se operam as relações fora do âmbito universitário/acadêmico onde há uma maior tolerância de pensamento e comportamento do que em outros espaços. 
Por fim, longe do autoritarismo e hipocrisia do "Monstro dos Julgamentos", persuadi Emerson á passar-mos a aurora da manhã na praia de Caiobá. O que me parecia tão e até banal, significou para aquele pobre diabo, cuja juventude havia sido negada, um ato singular de subversão. O "Monstro dos Julgamentos" não conseguiu estragar a minha jornada...Não consigui estragar seu propósito...Estava eu, olhando Guaratuba por uma perspectiva que eu nunca tinha visto antes. Estive finalmente em um lugar que nunca tinha estado, e voltei para casa triunfante. O Monstro dos Julgamentos não saberá aproveitar os anos que lhe concedi e tenho pelo menos mais uns 20 pela frente.

Na casa do Emerson, depois de toda aquela crise, se sucedeu uma jam entre todos os membros da banda Demon Crest e eu. É impressionante como coisas tão singelas, repletas de força e vida como uma jam, são coisas inatingiveis para seres como o "Monstro dos Julgamentos". É nestes momentos quando a infância musical domina nossos ossos que eu percebo que não devemos nada a estes monstros.  

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