domingo, 6 de julho de 2014

A história por trás de Artur Barz

Quem foi e quem é Artur Barz? Na busca para responder esta pergunta fundamental, que há anos divide a academia, vemos como sua história se confunde com o mito que foi edificado a partir de seu personagem. Nosso trabalho aqui não é endeusa-lo, muito menos condená-lo, mas colocar suas memórias e feitos num corpo coeso, para assim, tentar criar uma história e narrativa mais objetiva possível.




As dificuldades que encontramos em nosso caminho não se limitam apenas á escassez de documentos, mas também, a perda irreparável destes. Segundo sugere um dos capítulos do "Diário do Bardo sem Bandolim", um dos poucos documentos redigidos pelo autor que chegaram até nós [1], havia outros diários antes deste. Muitos historiadores acreditam que o próprio autor se desfez de seus diários e demais documentos, julgando-os medíocres e excessivamente emotivos, e o próprio admite ter queimado todos eles. Em muitas passagens do Diário ele faz menção á suas fogueiras, e existe um acervo de fotos que corrobora tais costumes, o que pode ser uma provável inferência ao destino que acometeu documentos que talvez estejam perdidos para todo o sempre. Existe hipóteses groseiras que o autor teria cometido rituais satânicos, e nestes rituais, queimava muitos documentos de sua autoria e de pessoas que ansiava violentar, mas não há nenhum indicio que suas fogueiras eram precedidas por rituais de qual quer espécie, ou que, fossem rituais em si.

Periodização

Antes de prosseguir com este trabalho, é importante colocar a periodização tradicional que ainda é aceita pela academia, para o leitor bem se localizar temporalmente. A história de Artur Barz, bem como da civilização a qual ele adveio, é dividida nestes 4 períodos:

Período Pré-Histórico (antes de 2007, há 13 anos atrás): Acredita-se que a formação do "Cortiço Mágico", cidadela e moradia dos barzmenis, se deu ainda nesse período.

Período Pré-Clássico (entre 2007 - 2010): Há muito poucos documentos que datam deste período. O próprio Artur Barz confessa, em sua autobiografia, que fez questão de eliminar documentos que remetiam a essa época, dando a entender uma atitude de pouco apreço pelo passado do Cortiço Mágico.

Período Clássico (entre 2010 - 2014): Temos, dessa época, documentos muito importantes para nosso entendimento dos barzmenis e seu principal representante, Artur Barz, através do Diário do Bardo, bem como, de algumas de suas obras encontradas em um Disco Rígido, e em cadernos que sobreviveram as interperes.

Período Clássico Tardio (entre 2014-2016): Historiadores estão divididos quanto ao rumo que a sociedade barzmeni tenha seguido nesse período. Muitos falam em uma franca decadência, outros, mais audaciosos, falam em uma "estranha migração".

O diário do bardo sem bandolim

Este diário foi escrito num corte temporal entre 2014 há 2018, e teve 3 volumes diferentes. Essa trilogia de diários nos contempla não só com o relato pessoal de seu autor, mas nos ajuda também a dar uma luz na compreensão da formação da Sociedade das Sombras de Njovar, que para muitos foi uma das mais peculiares comunidades de jovens formadas no nordeste catarinense. Os diários são importantes também para compreender o autor, antes e depois de ter formado esta sociedade que ainda sobrevive a seu misterioso desaparecimento. O primeiro volume, escrito em um singelo caderno verde, com uma caligrafia fraca e ilegível em certos pontos, é um relato peculiar de um período que conhecemos como "A era da quarta-feira", que durou 6 meses. O período é um relato de como a vida do autor tinha sido inseta de muitos contatos sociais intensos, e que sua vida se resumia, neste período em questão, apenas ás aulas que tinha no Conservatório de Belas Artes de Joinville ás quartas feiras.

O segundo volume, não é apenas mais relevante para a histografia, mas também, mostra um outro Artur que raramente volta a falar dos problemas existenciais que tanto abordava no volume anterior, e que foca, quase que exclusivamente, no relato de seus anos na graduação, onde edificou a base de suas alianças futuras.

O terceiro e último volume é interessante para compreender os primeiros anos de formação da Sociedade das Sombras de Njovar, sociedade de peregrinos que se intalara no interior de Garuva, em florestas nos pés dos grandes morros, como o Quiriri e o Santo Cristo.

O Sitío-Arqueológico do "Cortiço Mágico". 

Foi encontrado, no Município de Itapoá, litoral norte de Santa Catarina, os vestígios do que se acredita ser a civilização onde viveu Artur Barz. A única coisa que restou desta civilização, foi os restos do que pode ter sido uma casa, um templo religioso, ou a moradia de uma necrópole, devido a dezenas de ossadas de animais domésticos que ali foram encontrados. Como não foram encontrados documentos escritos que corroborem as crenças misticas dos barzmenis (muitos autores falam até que eles não tinham religião), a teoria, defendida por Gorsko [2] e Maregnatti [3], que é a mais aceita entre os acadêmicos, diz que o Cortiço Mágico seria uma espécie de necrópole, uma "cidade cemitério", onde mortos e vivos subsistiriam harmonicamente. Há outros autores, como Geuterglipp e Peralta que consideram a possibilidade que os restos da casa de madeira, encontrada no sítio arqueológico em questão, podem ter sido um templo religioso de uma obscura religião, que tinha, como visão místico-religiosa, a devoção aos animais domésticos. Como não foram encontrados sinais de que estes animais teriam sido sacrificados para fins religiosos, os autores propõem a ideia de que, na verdade, os barzmenis reverenciassem estes animais em demasiado para sacrificá-los. Para embasar suas pouco ortodoxas premissas, eles se basearam no "Sambaqui do Siamês", que se trata, basicamente, de um gato que foi enterrado com conchas cobrindo seu corpo, isso há 12 anos atrás. Esta é a unica ossada do período pré-clássico que tem essa característica, e para estes autores, este gato teria exercido alguma importância religiosa no imaginário daquela civilização para ter sido agraciado com tal ritual funerário.

A casa foi, por muito tempo, castigada pelas interperes e pela vegetação que dominou seus espaços, e em decorrência disso, muitos livros e documentos acabaram sendo inutilizados por várias infiltrações. Sobreviveram apenas alguns poucos livros, pastas, e recentemente uma equipe conseguiu salvar um HD que muito provavelmente pertencia ao computador pessoal do autor. Os poucos artefatos que chegaram a nós, carregam uma relevância sem igual no que diz respeito a nossa tarefa de dar alguma luz no enigma que tem sido os barzmenis e o seu personagem mais eminente. Foi encontrado restos do que os arqueólogos acreditam ser um instrumento de cordas primitivo, e um pote de ferro cheio de areia dentro, que pode se tratar de um instrumento que o autor usava como chocalho - tais artefatos arqueológicos ajudam a dar uma luz sobre a a música que era feita no período aqui estudado, bem como, sobre as expressões culturais deste individuo e de sua cultura.
Todo acervo com fins musicais que fora encontrado (vinis, cds, instrumentos musicais) apontam para um peculiar processo de miscigenação musical e cultural que pode ter ocorrido nas populações que viveram no Cortiço, desde de tempos anteriores há história escrita, há pelo menos 16 anos atrás. No HD em questão, foram encontradas músicas gravas e compostas pelo próprio autor aqui analisado, sendo um indicio muito forte da expressão musical dos barzemenis enquanto povo, que assimilaram várias expressões musicais e coverteram-nas em algo único.

A Imagem é uma ilustração de como seria o Cortiço no período Clássico. Fonte: DiaboAzul.


Nós não sabemos muito sobre o povo que ali viveu, mas sabemos, através dos documentos achados no local, que era composto por um povo miscigenado, interessado por práticas e culturas que não eram as suas...Se pergunta ainda se os barzmenis representariam uma cultura singular, ou se até mesmo, compartilhavam com os mesmos costumes de Artur. Infelizmente, não há muitos documentos escritos que falem sobre esse tema em especifico, obrigando os historiadores a se guiarem com a obra de David von Marchenbach [4], que havia sido contemporâneo do autor em um período anterior á fundação da Sociedade das Sombras de Njovar. Marchenbach testemunhou o próprio autor na plenitude de suas manifestações e expressões culturais, e ele destaca um dos peculiares costumes barzmenis, que era, a saber, a construção de barricadas que obstruíssem os famosos corredores dentro do cortiço, em comemoração ao "segundo natal de inverno". As origens deste feriado nos são desconhecidas, e Marchenbach fala muito superficialmente dos festejos que ele mesmo considera "insanos, sem grandes finalidades a não ser aquela que satisfaz o espirito dionisíaco daqueles indivíduos" (Marchenbach, p. 34).
Temos um calendário de festejos redigido pelo próprio Artur Barz, mas nada nos indica que ele tenha praticado estes festejos, efetivamente, até a fundação de Njovar.

Um exemplo de música tradicional barzmeni

A Sociedade das Sombras de Njovar, e a Sociedade Psicodélica dos Campos do Quiriri. 

Essas duas sociedades, abreviadas apenas como Sociedade de Njovar e Quiriri, correspondem a uma área de influência do grupo chamado de "niovarenos", ou "niovarenses", que são, basicamente, a união de muitas alianças, que mesmo no plano ideológico não houvesse lideres, muitos autores definem Artur Barz como o mais influente dos niovarenos. O nome "Njovar" (leia-se "Niovar") foi inspirado em uma das 14 comunas agrícolas que compunham Sonseyevan, uma nação fictícia criada por Artur Barz em seu romance "As Senhoras da Lua", escrito entre os anos de 2011 há 2016, e que teve, pouca ou quase nenhuma distribuição fora dos circuitos intelectuais da sociedade niovarena. O livro, em si, é para nós uma amostra como Artur, alem de ser uma eminente figura no nosso imaginário politico, também era um bom escritor, confessando uma sincera admiração ás artes e a literatura.
Niovar surgiu em 2016, no final do Período Clássico Tardio, onde aparentemente, Artur Barz teria entregue o governo do Cortiço Mágico ás lideranças ali remanescentes, para liderar comunidades recém formadas de intelectuais peregrinos,  cujo se estabeleceram numa região que abrange os municípios de Joinville, Garuva, e Itapoá. Essas comunidades se tornaram posseiras de pequenas fazendas ao longo da BR-101, e fizeram pequenas plantações no meio de florestas distantes dos centros urbanos das cidades supracitadas. A sociedade Niovarena, se construiu através de pequenas vilas interligadas por trilhas no meio da floresta, sendo que algumas dessas vilas não chegam a contar com mais de quatro abrigos. Essas vilas, unificadas por comunidades, se auto-administram, reconhecendo apenas o poder executivo de alguns ministros, que não tem outra tarefa a não ser de executar leis votadas por Assembleias Livres, ou nas "Ágoras do Quiriri".
A sociedade niovarena, nos dias atuais, se caracteriza como uma sociedade semi-nômade, com uma população aproximada de 300 indivíduos, que tiram seu sustento através de uma pequena atividade agrícola, e por contribuidores nas cidades da Região de Joinville. Eles são conhecidos por muitas de suas ações sociais, bem como, seu conflito com grandes e pequenos latifundiários que não simpatizam com suas práticas e ideologias. As entidades que surgiram na experiencia niovarena foram, para citar duas, a "Guarda Florestal Comunitária", conhecidos pejorativamente como os "Escoteiros Drogados", e o projeto "Telhado Verde". O segundo projeto, em especial, ficou conhecido por ter tirado e reabilitado 48 moradores de rua, e o primeiro ficou conhecido como uma alternativa mais atraente aos escoteiros, sendo que os essa guarda florestal possui estruturas hierárquicas muito mais flexíveis em comparação a estes últimos.
Não seria licito esquecer, também, o conflito que tem começado a surgir nas regiões próximas a área de influencia desta sociedade, com a criação de um Exército de Arqueiros, que diz estar a serviço dos "amdarilhos desinteressados", e aos índios e camponeses sem terra.
E nesse ínterim, o que ocorreu a Artur Barz? Segundo algumas fontes, ele teria se retirado para as profundezas da Serra, para dali nunca mais retornar. Outros supõe que ele tenha sido assassinado. E ainda há aqueles, dentro e fora de Niovar, que prevem seu retorno, assim como profetizam o retorno de um profeta.  

[1] "Tantas foram as frustradas tentativas de escrever um diário, mas pensando bem, nunca me foquei em descrever minunciosamente o meu cotidiano, mas sim, minhas frustrações que se acumulam pelas primaveras e verões" BARZ, Artur. O Diário do Bardo sem Bandolim. Editora Njovar. Garuva, 2017. Acervo: Biblioteca Comunitária de Njovar.
[2] GORSKO, Emil. A Necropole Barzmenica. Editora Abril. São paulo, 2019.
[3] MAREGNATTI, Giulio. Civilização Barzmeni. Garuva, 2018. 
[4] MARCHENBACH, David Von. O cortiço podre. Editora Brasiliense. São Paulo, 2019.

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