De uma forma ou outra, eu dedico esse pequeno provérbio ao monstro do sebo escuro, e para os guardiões invisíveis da praça improvisada.
Era uma vez um andarilho que tinha se sentado aos pés de um salgueiro, um salgueiro que vivia nestes terrenos de grama cortada e arvores esparsas.
Ele ficou ali por uns 20 minutos, contemplando o cantar dos pássaros e as folhas do salgueiro, que como plateia silenciosa, o admiravam sem dizer uma palavra. Toda aquela doce atmosfera, tão doce quanto o mel, tinha se diluído no corpo de um homem caucasiano de meia idade, que se aproximou do andarilho e disse: "Quem és tu, o que fazes aqui?"
- Meu nome não é importante. O que é importante saber, neste momento, é que eu sou um homem simples, que tem o sol e a sombra como platéia de sua solidão, assim como meus olhos e membros que já sentiram mil experiencias e mil frustrações - respondeu o andarilho.
- Olha, amigo...Nós não gostamos de gente como você...Peço que se retire - disse o homem branco, que, de tão sulista e de tão branco não conseguia expressar a verdadeira hostilidade que sentia por aquele jovem rapaz de cabelos longos e vestes extravagantes.
- Se anseias que eu me retire, para daqui nunca retornar, comece por estas arvores cortar. Feito isso, cubra o solo de brita e cimento, e diga para outros homens brancos a fazer o mesmo experimento. Em dez anos, vossos filhos não terão um ar para respirar, ou uma sombra para descansar. Os dias de sol serão tenebrosos e os de chuva serão ainda piores. O solo se alimentará de chuva ácida e as plantações serão queimadas por mil sóis. Mas, se isto te serve de consolo, nunca terás que se preocupar comigo se fizer o que anteriormente disse.
O andarilho se levantou, e sem mais nenhuma palavra, desapareceu no horizonte para nunca mais retornar. O homem, demasiado branco, e agora, menos sulista, fitou o salgueiro atônito. As palavras do andarilho tinha se aprisionado em sua mente, torturando-o.
Dois dias depois, o homem branco não cortou as arvores, mas cercou o terreno com arame.
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