segunda-feira, 7 de abril de 2014

O primeiro album do Black Sabbath

Tomo a liberdade de postar uma postagem que comecei a escrever em Agosto de 2012, e que, só agora, finalizei. Minha demora para postar não foi a falta de tempo...Foi uma fodida procrastinação que permeia todos os abismos de minha mente.
Se preparem, pois o post é longo...

Para proporcioná-los uma experiencia peculiar, ao ler este post, eu sugiro o seguinte:

1. Ao começar a ler o terceiro paragrafo[3], coloque pra tocar a faixa Black Sabbath. 
2. Só comece a ler o quinto parágrafo [5] depois do término da faixa "Black Sabbath". Feito isso, escute a Wizard. 
3. Só comece a ler o sexto parágrafo[6] após o termino da musica anterior e assim por diante.

Se preferirem, podem baixar o album neste link, e colocar o álbum pra tocar enquanto leem este post.






O ano é 1970. A contra-cultura hippie conhece sua decadência enquanto a guerra do Vietnã está em seu apogeu.

Depois do confuso e intenso período que o mundo conheceu como anos 60, ficava a expectativa e a curiosidade para saber como seria os anos 70. Duas perguntas marcaram aquela nova década: se a aquela década seria tão intensa e revolucionária como a anterior ou se seria monótona e bucólica como os anos 1950.

[3]O primeiro dia do outono é anunciado pelo padalar dos sinos numa igreja de um vilarejo chuvoso. Um tipico vilarejo inglês, palco do tédio e dos dias úmidos, onde o barulho das gotas de chuva e dos trovões contrastam melodicamente com os sinos sendo tocados em intervalos semi-breves.
Um grupo de jovens, se reúne em volta de um pentagrama desenhado no chão de uma casa em ruinas, que tem conservada apenas as suas suas fundações de rocha e tijolos, e algumas paredes. Todos no grupo escondiam sua nudez apenas com o manto negro que envolvia vossas peles, e que protegia vossos corpos do frio. Nenhum deles ousou falar uma palavra, estavam ali para um ritual, mas não qual quer ritual. O que eles fariam ali, não é nada o que aprovaríamos dentro de nossa moralidade. Ele ansiavam sacrificar uma jovem virgem, para que desse sacrifício, satã possuísse seu corpo e pudesse vagar pelo universo. Eis que a infeliz criatura aparece ao centro das atenções daquele espetáculo mórbido, assistido por estranhas criaturas com capas pretas. Ela é levada, por dois membros da seita até o centro do pentagrama, aonde uma cruz a esperava. Foi preciso mais dois membros da seita para poder amordaça-la e prende-la naquela cruz.
A jovem tentava, de qual quer modo, se livrar das amarras que a prendiam seus braços e pernas. De nada adiantou os gritos, e já tinha perdido a virgindade para todos os membros masculinos daquela seita. 
Finalmente, uma das lideres da seita esfaqueia o peito, da jovem nua, selando o destino da infeliz. Seu corpo, inanimado e imóvel, como o ambiente e o astral daquela vila brutalmente banal, começa a ganhar vida novamente. No lugar daqueles delicados olhos castanhos, as palperas se abriram, revelando olhos brilhantes e vermelhos como sangue e fogo. Eles referenciam seu mestre e pedem que ele poupe suas vidas pelo sacrifício que fizeram. Satã não concede misericórdia e mata cada um deles. Satã começa a espalhar o caos e a discórdia por onde passava, matando todos que encontrava pela frente. A grama que outrora era verde, se reduzia a um terreno cinzento e infértil, e homens e mulheres eram reduzido á corpos mutilados pelo chão. Nada podia salvá-los da cólera infernal.



[5]Parece que é o fim encarnado num corpo de uma bela virgem...As pessoas começam a envocar ajuda dos céus, rogando por Deus uma intervenção. Não esperariam elas que a ajuda viria de uma forma inusitada, e seu salvador em nada lembrava um messias, com exceção dos cabelos. Não era um anjo ou Jesus em pessoa, era um bruxo tocando uma gaita de boca. Um druida misterioso, calado, que nada mais fazia, do que fazer voltar a vida aquilo que o demônio tinha feito perecer. 
Há uma pequena escaramuça entre ele e o demônio, e o bruxo não tem dificuldades em combater o demônio encarnado, derrotando-o e aprisionando-o em sua bola de cristal.
Se derrotar o demônio não fosse o bastante, aquele extravagante bruxo mostrava ser uma criatura extremamente filantrópica e altruísta, dando uma vida que aquele vilarejo nunca teve. 
Ele restabelecia as cores aonde estava escuro, fazia raízes mortas se converterem em pomares prósperos, e cadáveres se erguerem como pessoas altruístas e felizes. As pessoas o saudavam, oferecendo presentes e lhe desejando boa aventurança. O reconheciam como herói e salvador, todavia, não aceitando nenhum dos presentes e não falando sequer uma palavra, o bruxo desaparece da cidade tão misteriosamente quanto aparecera. E deste dia em diante, ele jamais retornara, e a felicidade que ele deixou no vilarejo desapareceu com ele. Não demorou muito para que as pessoas esquecessem o ocorrido e mistificassem seu excêntrico salvador como uma reles lenda, ou uma história mirabolante que os vagabundos, bardos e outras especies de pessoas questionáveis contavam. Quem sabe o que teria ocorrido se aquele bruxo sempre estive-se entre aquelas pessoas? Se assim fosse, teriam elas se corrompido tão facilmente ao tédio e ao marasmo? Ainda houve um filosofo grego que fizera a seguinte declaração para seus seguidores: "Esse bruxo representa o que havia restado do movimento hippie nos anos 70. Uma magia que se esvanecia aos poucos". 

[6]A musica Behind The Wall what Sleep representa os últimos anos do velho bruxo peregrinando pela Grã-Bretanha sem lar e sem destino. Exausto e cansado, ele adoece numa pastagem, no interior inglês.

Numa tarde nublada e bucólica de outono, Raymond McKennought, um jovem fazendeiro, caminhava pelas esverdeadas pradarias que envolviam as terras pertencentes a sua família á gerações, admirando a grama sendo animada pelos ventos. Tudo parecia estar ali, como de costume. A grama, algumas vacas e ovelhas, todas dispersas pelos campos. Mas havia algo diferente naquele cenário que ele tinha presenciado quase toda a sua vida...Ele podia ver, no horizonte, uma nova cor que muito se contrastava com o verde, ou o cinza do céu. Se tratava de algo que nós, homens ocidentais, conhecemos como "pano roxo". Raymond não se lembrava de ver aquela cor em sua vida, salvo nas aulas que teve no jardim de infância, aonde ensinavam as crianças a aprender a dar nomes ás cores. 
Aproximando-se daquela capa roxa, ele tinha encontrado uma calça, e o que deveria ser o restos de alguém, só que, não havia ossos ou carne embaixo daquelas vestimentas. O que deveria ter ocorrido? Os ossos foram vaporizados, ou simplesmente, havia uma pessoa correndo nua pelos pastos? De qual quer forma, havia muitos objetos que chamaram a sua atenção...A capa roxa com desenhos de estrelas e cometas, bolas de cristais de diversas cores e um cetro com um diamante verde em sua extremidade. Sua curiosidade o levou examinar cada uma daquelas bolas de cristal atentamente, e uma delas, particularmente, tinha o hipnotizado. Era uma esfera vermelha, brilhante, e que dentro parecia haver uma especie de liquido vermelho, sempre molestado por redemoinhos. Ele ficou segurando essa esfera por um longo tempo, até ela começar a queimar o peito de sua mão esquerda como se fosse um ferro em brasa. Rapidamente ele joga a esfera no chão, e vê ela reagir como um ovo chocando, revelando crateras profundas, que revelavam uma cor brilhante que emanava de dentro delas. O dia se converte rapidamente em noite, e o cristal eclode, revelando uma forte luz vermelha-alaranjada. O jovem rapaz quase não consegue ver nada com a intensidade da luz, até que, ela vai se esvanecendo bem rapidamente, revelando uma bela jovem, nua aos pés a cabeça, com longos cabelos castanho-ruivos. A escuridão no céu esvanece, e o céu cinzento da tarde volta a reinar. O jovem fica ali deitado no chão, sem conseguir falar sequer uma palavra. Os dois ficam se entre-olhando por dois minutos sem proferir se quer uma palavra para o outro. A jovem, então, engatinha, como um bebê em direção a Raymond, que só a observava fascinado. Já estando com todo corpo em cima dele, um único beijo o seduz por completo, fazendo-o se entregar, de corpo e alma, a aquele corpo nu sobre o seu. Ambos se entregam totalmente aos instintos, até que, o cansaço fizeram ambos adormecer por algumas horas. 

Ao acordarem, o sol da manhã batia no rosto deles. A jovem, então é a primeira a se levantar, e a primeira coisa que fez depois de acordar, foi cobrir parcialmente seu corpo nu com a capa do velho bruxo. É neste momento que eles tiveram a oportunidade de, realmente, conversarem entre si, e contemplarem a si mesmos naquela cena tão surreal, de dois seres nus conversando no amanhecer sobre coisas do céu e da terra. Ele estava totalmente apaixonado por aquela mulher tão misteriosa, que com muita facilidade, ela o corrompia ao riso tolo, não importando o que ela dizia. Ele mesmo tinha pensado consigo mesmo: "Eu devo estar enfeitiçado...Mas quer saber, eu não me importo!". Ela o entretinha falando coisas que ele não conseguia entender, e até elaborando argumentos divertidos e absurdos.

- Tudo isso não parece real...Você parece um sonho...Quem é você? - perguntou Raymond.
-  Eu tenho muitos nomes, mas se preferir, me chame de Lúcifer.
- Ah, perdão? Você parece ser muito simpática para ser...Satã - perguntou Raymond um pouco confuso. 
- Eu sou Satã encarnado, se ficares comigo, aceitará peregrinar com uma condenada ao fogo eterno. Você ainda tem a chance de conseguir a salvação se largar a minha mão e deixar que eu carregue este fardo pela eternidade.

- Você representa meu amor pela natureza e pelas coisas na terra. Nosso amor é mais forte que as chamas que podem me molestar. A "salvação", dos termos que você colocou, me parece castigo...Vou te chamar de Lucy =)

 Dito isso, eles continuaram o que tinham começado na noite anterior...



Look into my eyes, you will see who I am
My name is Lucifer, please take my hand 

[7] Depois que Raymond deu algumas roupas de sua irmã para Lucy usar, eles foram até a cidade passear um pouco. Não demorou muito até Lucy demonstrar ser uma garota muita travessa, usando seus poderes para ludibriar a todos na pequena cidade com trapaças e brincadeiras de mau gosto. Raymond se sentiu incomodado no começo, mas depois se acostumou com o jeito travesso e infantil daquela bela criatura, alias, aquele estava sendo simplesmente o melhor dia da sua vida. Ela tinha o encorajado a fazer tudo o que sempre quis fazer, como também, falar o que sempre quis falar para as pessoas que detestava. 
Em um único dia eles fugiram da policia duas vezes, se envolveram em 10 brigas, roubaram umas 4 lojas, e transaram 5 vezes, em muitos lugares diferentes da cidade. Tendo metade do povo da cidade como inimigo, o entardecer os obrigou a se refugirem numa casa abandonada num vilarejo distante, levando todos os pertences que tinham roubado consigo: o barril de cerveja, os machados medievais, várias peças de roupa, alguns suprimentos, e uma barraca. 

 Armaram a barraca dentro daquela sala de estar vazia, entregue aos ratos, cupins, ao sereno e silencioso abandono, e por fim, dormiram profundamente. 

[8] Eram 8:00 da manhã e eles já estavam acordados. Lucy fez um apetitoso café da manhã para Raymond, e este a retribuiu com um beijo. Já fazia duas noites que ele não retornava mais a sua casa no campo, mas ele não estava mais se importando com seus pais, muitos menos, ansiava retornar a dividir o lar com eles...Lucy havia lhe dito que ele era a unica coisa que a fazia não devastar tudo o que tinha ao redor deles, e que já tinha destruído aquela cidade no passado, e muito bem poderia faze-lo de novo, se quisesse. Por mais que a ideia de matar indiscriminadamente as pessoas de um pacato vilarejo interiorano inglês nos pareça abominável, Raymond não pareceu se amedrontar com isso...Nada o que ela falasse faria que ele a amasse menos. 

Depois do café da manhã, Lucy tinha lhe dito:
- Temos uma longa viagem pela frente. Percorreremos muitas milhas, nunca tendo um destino pré-definido e final. E para começarmos essa jornada, é necessário que você tenha outros olhos e outra mente - disse ela oferecendo uma pilula azul que havia materializado em sua mão.

Raymond tomou aquele comprimido, e em poucos segundos estava fodidamente chapado...

The Warning

Imagine a viagem psicotrópica mais fascinante que você já teve...Imaginou? Bom, acho que nem chegou perto do que Raymond viu e sentiu...Aquela droga produzia diferentes efeitos sobre ele...Ora ela o deixava muito alegre e inquieto, ora o deixava tonto e lento, as vezes o deixava muito sensível aos sons, ora o deixava muito furioso, alegre ou triste...Cinco horas ou três horas se passaram (a percepção de tempo é muito prejudicada sobre o efeito daquela droga), e ele via alucinações coloridas e divertidas...Elefantes gigantes, lobos meio cangurus, minhocas gigantes que conversavam entre si sobre esportes, arvores que voavam como pássaros, tesouras protestando contra papéis e canetas...Chegou uma hora, que a droga o fez cair no chão, e ali mesmo, Lucy e Raymond transaram mais uma vez. 

Epilogo - The Wicked World

Quanto mais os dias se passavam, mais o amor de Raymond por Lucy se convertia numa doentia fascinação. Raymond, num ultimo ato de louvo, lhe disse:
- Quero ir ao inferno contigo...Só Deus sabe como te amo.
- E se eu disse-se que não existe Deus, e muito menos, o inferno?
- Como é? - perguntou ele confuso.
- Nós só fazemos parte do primeiro álbum de heavy metal da história. Nosso destino é vagar pela eternidade, e pensando bem, já estamos no nosso próprio inferno.

Raymond e Lucy continuaram a ser o casal feliz que sempre foram e tiveram muitos filhos. E por onde eles andam, afinal? Podemos encontrar um pouco deles em cada música, e em cada banda que segue o grande  legado nos deixado pelo Black Sabbath. Gosto de pensar que, de alguma forma, eles vivem nesse mundo pavimentado por guitarras elétricas distorcidas fazendo suas travessuras, bebendo, transando e se divertindo muito.  

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